"A pior solidão que existe é darmo-nos conta de que as pessoas são idiotas."
Gonzalo Torrente Ballester
Monday, February 26, 2007
Sunday, February 25, 2007
O fim último da vida
Autor do texto - João Pereira Coutinho, jornalista
Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não.A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe:jardim-escola aos três, natação aos quatro,lições de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente mas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho,o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho,os restaurantes de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne,saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!
Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não.A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe:jardim-escola aos três, natação aos quatro,lições de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente mas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho,o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho,os restaurantes de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne,saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!
Thursday, February 22, 2007
Nunca mais te hás-de calar
Faz amanhã 20 anos que morreu Zeca Afonso, mas como escreveu José Mário Branco:
Nunca mais te hás-de calar, Ó Zeca para nós...
Zeca
por José Mário Branco
Vieste de menino de oiro pela mão
Acordar a madrugada
E fez mais ás vezes uma só canção
Do que muita panfletada
Grandes janelas soubeste abrir
Por onde o ar correu sem te pedir
Que não se cansem de nascer
As fontes onde vais beber
Nunca mais te hás-de calar
Ó Zeca, para nós
Canta sempre sem parar
Que é seiva e flor
A tua voz
Vestiste a capa de caloiro coimbrão
Para ultrapassar o fado
E, em cada natal, teu fruto temporão
Nunca foi ultrapassado
Na distracção jogas á defesa
Com humor disfarças a tristesa
Cantas a esp'rança e o amor
Que o povo te ensinou, de cor
Nem tudo o que reluz é oiro, pois então
E bem gostaria o facho
De te ver calado e manso pela mão
Com medalhas no penacho
Co'a tua ronha felina e sã
Vais-lhe atirando as flechas de amanhã
O olho pisco a acender
E a garganta a acontecer
Nunca mais te hás-de calar
Ó Zeca, para nós
Canta sempre sem parar
Que é seiva e flor
A tua voz
Vieste de menino de oiro pela mão...
Nunca mais te hás-de calar, Ó Zeca para nós...
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Zeca
por José Mário Branco
Vieste de menino de oiro pela mão
Acordar a madrugada
E fez mais ás vezes uma só canção
Do que muita panfletada
Grandes janelas soubeste abrir
Por onde o ar correu sem te pedir
Que não se cansem de nascer
As fontes onde vais beber
Nunca mais te hás-de calar
Ó Zeca, para nós
Canta sempre sem parar
Que é seiva e flor
A tua voz
Vestiste a capa de caloiro coimbrão
Para ultrapassar o fado
E, em cada natal, teu fruto temporão
Nunca foi ultrapassado
Na distracção jogas á defesa
Com humor disfarças a tristesa
Cantas a esp'rança e o amor
Que o povo te ensinou, de cor
Nem tudo o que reluz é oiro, pois então
E bem gostaria o facho
De te ver calado e manso pela mão
Com medalhas no penacho
Co'a tua ronha felina e sã
Vais-lhe atirando as flechas de amanhã
O olho pisco a acender
E a garganta a acontecer
Nunca mais te hás-de calar
Ó Zeca, para nós
Canta sempre sem parar
Que é seiva e flor
A tua voz
Vieste de menino de oiro pela mão...
Friday, February 16, 2007
Vantagem da inteligênica
"Nos tempos em que a inteligência era uma vantagem, os nossos antepassados eram, em média, mais inteligentes que outros das suas gerações."*
Sei bem que isto está fora do contexto, mas por isso mesmo acho piada a esta frase quando se pensa em quem conduz os nossos destinos hoje em dia, seja ao nível governativo seja relativamente à hierarquia numa grande empresa.
* - Isto é apenas uma frase da terceira parte de um artigo sobre a teoria da evolução das espécies de Darwin (podeís encontrar as duas primeiras aqui: parte 1, parte 2)
Sei bem que isto está fora do contexto, mas por isso mesmo acho piada a esta frase quando se pensa em quem conduz os nossos destinos hoje em dia, seja ao nível governativo seja relativamente à hierarquia numa grande empresa.
* - Isto é apenas uma frase da terceira parte de um artigo sobre a teoria da evolução das espécies de Darwin (podeís encontrar as duas primeiras aqui: parte 1, parte 2)
Tuesday, February 13, 2007
Saturday, February 10, 2007
Cantar Alentejano
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
Tuesday, February 6, 2007
Inspiração do génio (4)
Se os mais distintos físicos e matematicos acreditam no génio como mágico é, em parte, para sua protecção psicológica. Um cientista apenas excelente poderia sofrer um choque desagradavel se discutisse s seu trabalho com Feynman. Aconteceu vezes sem conta: os físicos esperavam por uma oportunidade para terem a opinião de Feynman acerca do resultado de um trabalho no qual tinham empenhado semanas ou meses da sua carreira. Como era típico de Feynman, este recusar-se-ia a deixá-los dar uma completa explicação desse trabalho. Dizia que era menos divertido para ele. Permitia-lhes apenas que apresentassem as linhas gerais do problema, antes de interromper e dizer oh, eu sei... e rabiscar no quadro, não o resultado, A, do problema apresentado pelo visitante, mas sim um teorema mais difícil, mais geral, X. Assim, A (prestes a ser enviado, talvez, para a Physical Review) não passava de um caso particular. Isto podia magoar. Por vezes, não era claro se as repostas iluminadas de Feynman resultavam de um cálculo instantâneo ou de um conhecimento previamente armazenado e trabalhado - e não publicado. 0 astrofísico Willy Fowler propôs, num seminário no Caltech, nos anos 60, que os quasares - misteriosas fontes de radiação brilhantes, recentemente descobertas no céu - eram estrelas com uma enorme massa, tendo-se Feynman levantado de imediato para dizerr, surpreendendo toda a gente, que tais objectos seriam gravitacionalmente instáveis. Mais, afirmou que a instabilidade era um resultado da relatividade geral. Esta afirmação exigia um cálculo dos subtis efeitos de equilibrio entre as forças estelares e a gravidade relativista. Fowler pensou que Feynman estava a falar sem conhecimento de causa. Mais tarde um colega descobriu que Feynman havia efectuado um trabalho de uma centena de páginas sobre o assunto alguns anos antes. 0 astrónomo de Chicago Subrahmanyan Chandrasekhar, trabalhando independentemente, chegou ao mesmo resultado de Feynman - e isso constitiu parte do trabalho que lhe valeu o prémio Nobel vinte anos depois.
O próprio Feynman nunca se preocupou em publica-lo. Alguém com uma ideia nova arriscava~se sempre a descobrir, como dizia um colega, "que Feynman tinha passado por ela e partido em busca de outra».
Um grande físico que acumulava saber sem se dar ao trabalho de o publicar podia ser um autêntico perigo para os seus colegas. Na melhor das hipóteses, era desanimador saber que uma descoberta susceptível de promover a carreira de uma pessoa estava, para Feynman, abaixo do limiar da publicabilidade.
in "Feynman - A Natureza do Génio" de James Gleick
O próprio Feynman nunca se preocupou em publica-lo. Alguém com uma ideia nova arriscava~se sempre a descobrir, como dizia um colega, "que Feynman tinha passado por ela e partido em busca de outra».
Um grande físico que acumulava saber sem se dar ao trabalho de o publicar podia ser um autêntico perigo para os seus colegas. Na melhor das hipóteses, era desanimador saber que uma descoberta susceptível de promover a carreira de uma pessoa estava, para Feynman, abaixo do limiar da publicabilidade.
in "Feynman - A Natureza do Génio" de James Gleick
Inspiração do génio (3)
Como disse Mark Kac: «[...] o funcionamento das suas mentes é, para todos os efeitos, incompreensível. Mesmo depois de termos compreendido o que fizeram, o processo pelo qual o fizeram , continua mergulhado na mais completa escuridão.»
Inspiração do génio (2)
[Um professor da Universidade de Cambridge interroga um génio da matematica, a trabalhar em Manchester como um humilde empregado] [...] sobre temas que vão da geometria ao cálculo diferencial e integral, passando pelos logaritmos, e depois, sobre questões das mais estranhas e profundas. Por fim, é posto ao pobre empregado um problema que demoraria semanas a resolver. A resposta é dada imediatamente, num pequeno pedaço de papel. «Mas como», diz o professor, «como conseguiu isto? Mostre-me a regra", a resposta está correcta, mas chegou lá por um caminho diferente.»
«Resolvi o problema», diz o empregado, «com uma regra que está na minha cabeça. Não posso mostrar-lhe a regra - eu próprio nunca a vi; a regra está na minha cabeça.»
«Ah!», exclama a professor, «se fala de uma regra dentro da sua cabeça, nada a fazer; não posso segui-lo atá lá.»
numa brochura de 1851 intitulada Genius and Industry
«Resolvi o problema», diz o empregado, «com uma regra que está na minha cabeça. Não posso mostrar-lhe a regra - eu próprio nunca a vi; a regra está na minha cabeça.»
«Ah!», exclama a professor, «se fala de uma regra dentro da sua cabeça, nada a fazer; não posso segui-lo atá lá.»
numa brochura de 1851 intitulada Genius and Industry
Inspiração do génio
Um físico que se dedicava ao estudo da teoria quântica do campo com Murray Gell-Mann no California Institute of Technology nos anos 50, antes da publicação dos textos fundamentais neste domínio, descobre apontamentos não publicados, da autoria de Feynmnan, que circulavam em cópias pirata. Pergunta a Gell-Mann se sabe alguma coisa acerca deles. Gell-Mann diz que não, que os métodos de Dick são diferentes. 0 estudante pergunta: então quais são os métodos de Feynman? Gell-Mann encosta-se ao quadro e responde que o método de Dick é o seguinte: toma-se nota do problema; pensa-se muito (fecha os olhos e leva a mão à testa, parodiando a atitude do pensador); depois, escreve-se a resposta.
Monday, February 5, 2007
Cidadão prevenido
Já um ditado antigo diz que "Homem prevenido vale por dois", Precavenha-se pois cada cidadão para a eventualidade de irregularidades nas assembleias de voto no referendo a realizar no próximo dia 11.
A bem da República
A bem da República
Imaginação
"A imaginação é a faculdade que permite ao pensamento não só reflectir sobre o seu próprio modo de operar, como também reunir as diversas ideias que lhe são transmitidas através dos sentidos e que ficam guardadas no repositório da memória, combinando-as e separando-as a seu bel-prazer, e que, pela plasticidade do seu poder de inventar novas associações de ideias e de as combinar entre si numa variedade infinita, é capaz de apresentar uma criação própria e mostrar cenas e objectos inexistentes na Natureza."
Wlliam Duff et al.
Wlliam Duff et al.
Sunday, February 4, 2007
Experiências
"Não temos de nos desculpar com um número insuficiente de experiências, a questão nada tem a ver com experiências. A nossa situação é diferente, digamos, da do campo de mesões, em relação ao qual dizemos não existirem indícios suficientes para a mente humana poder visualizar a questão. Não deveríamos sequer ter de olhar para as experiências [...] Fazê-lo é o mesmo que ir às últimas páginas do livro, ver qual é a solução [...] A única razão pela qual não conseguimos resolver este problema da supercondutividade é a nossa falta de imaginação."
Richard Feynman
Richard Feynman
Sobre ciência
"A ciência é uma forma de ensinar como se consegue conhecer uma coisa, o que não é conhecido, até que ponto as coisas são conhecidas (porque nada é conhecido em absoluto), como lidar com a dúvida e a incerteza, como fazer a demonstração, como pensar sobre as coisas por forma a fazer juízos sobre elas, como distinguir o verdadeiro do falso e da aparência."
Richard Feynman
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