Thursday, February 22, 2007

Nunca mais te hás-de calar

Faz amanhã 20 anos que morreu Zeca Afonso, mas como escreveu José Mário Branco:
Nunca mais te hás-de calar, Ó Zeca para nós...

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Zeca
por José Mário Branco

Vieste de menino de oiro pela mão
Acordar a madrugada
E fez mais ás vezes uma só canção
Do que muita panfletada
Grandes janelas soubeste abrir
Por onde o ar correu sem te pedir
Que não se cansem de nascer
As fontes onde vais beber

Nunca mais te hás-de calar
Ó Zeca, para nós
Canta sempre sem parar
Que é seiva e flor
A tua voz

Vestiste a capa de caloiro coimbrão
Para ultrapassar o fado
E, em cada natal, teu fruto temporão
Nunca foi ultrapassado
Na distracção jogas á defesa
Com humor disfarças a tristesa
Cantas a esp'rança e o amor
Que o povo te ensinou, de cor

Nem tudo o que reluz é oiro, pois então
E bem gostaria o facho
De te ver calado e manso pela mão
Com medalhas no penacho
Co'a tua ronha felina e sã
Vais-lhe atirando as flechas de amanhã
O olho pisco a acender
E a garganta a acontecer

Nunca mais te hás-de calar
Ó Zeca, para nós
Canta sempre sem parar
Que é seiva e flor
A tua voz

Vieste de menino de oiro pela mão...

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