Tuesday, February 6, 2007

Inspiração do génio (4)

Se os mais distintos físicos e matematicos acreditam no génio como mágico é, em parte, para sua protecção psicológica. Um cientista apenas excelente poderia sofrer um choque desagradavel se discutisse s seu trabalho com Feynman. Aconteceu vezes sem conta: os físicos esperavam por uma oportunidade para terem a opinião de Feynman acerca do resultado de um trabalho no qual tinham empenhado semanas ou meses da sua carreira. Como era típico de Feynman, este recusar-se-ia a deixá-los dar uma completa explicação desse trabalho. Dizia que era menos divertido para ele. Permitia-lhes apenas que apresentassem as linhas gerais do problema, antes de interromper e dizer oh, eu sei... e rabiscar no quadro, não o resultado, A, do problema apresentado pelo visitante, mas sim um teorema mais difícil, mais geral, X. Assim, A (prestes a ser enviado, talvez, para a Physical Review) não passava de um caso particular. Isto podia magoar. Por vezes, não era claro se as repostas iluminadas de Feynman resultavam de um cálculo instantâneo ou de um conhecimento previamente armazenado e trabalhado - e não publicado. 0 astrofísico Willy Fowler propôs, num seminário no Caltech, nos anos 60, que os quasares - misteriosas fontes de radiação brilhantes, recentemente descobertas no céu - eram estrelas com uma enorme massa, tendo-se Feynman levantado de imediato para dizerr, surpreendendo toda a gente, que tais objectos seriam gravitacionalmente instáveis. Mais, afirmou que a instabilidade era um resultado da relatividade geral. Esta afirmação exigia um cálculo dos subtis efeitos de equilibrio entre as forças estelares e a gravidade relativista. Fowler pensou que Feynman estava a falar sem conhecimento de causa. Mais tarde um colega descobriu que Feynman havia efectuado um trabalho de uma centena de páginas sobre o assunto alguns anos antes. 0 astrónomo de Chicago Subrahmanyan Chandrasekhar, trabalhando independentemente, chegou ao mesmo resultado de Feynman - e isso constitiu parte do trabalho que lhe valeu o prémio Nobel vinte anos depois.
O próprio Feynman nunca se preocupou em publica-lo. Alguém com uma ideia nova arriscava~se sempre a descobrir, como dizia um colega, "que Feynman tinha passado por ela e partido em busca de outra».
Um grande físico que acumulava saber sem se dar ao trabalho de o publicar podia ser um autêntico perigo para os seus colegas. Na melhor das hipóteses, era desanimador saber que uma descoberta susceptível de promover a carreira de uma pessoa estava, para Feynman, abaixo do limiar da publicabilidade.

in "Feynman - A Natureza do Génio" de James Gleick

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